Enormous, facade-covering LED displays have long been part of daily life in big cities’ public spaces.
For his project, the Brazilian photographer (born
1980), found examples of such advertisements in Paris, Switzerland and, above all, in his hometown of São Paulo. As a series, they make a strong statement for visual overload. *We exist in an era characterized by pervasive distraction and inattention,” says Lenci. “What my images depict is unfolding in real time, right before our eyes, everywhere we look. The media, information overload, and hyper-connectedness are overwhelming, reaching a volume we can scarcely manage. The Metaverse is already upon us.” The collective withdrawal from an analogue way of life marches on. “We need to rethink this behavior,” the photographer, who is himself familiar with and conscious of this, realizes.
“Inattention Era started brewing when I found myself juggling the challenges of raising two kids, while trying to keep our digital world at home safe and healthy. It got me thinking about everything else bombarding us from screens that I cannot control, and that seem to multiply by the minute in every city in the world.”
One of the project’s historic references is the Theaters series by Japanese American photographer Hiroshi Sugimoto, whose long exposures in cinemas caused a sensation over four decades ago. Lenci’s series takes the concept into outdoor spaces, where the technical prerequisites have fundamentally changed. Modern-day displays use semiconductors. “A diode is an electronic component that allows the flow of electrical current in only one direction, while preventing the flow in the opposite direction,” the photographer explains. “This relentless battle for our focus, coupled with the overflow of information, is spawning a global epidemic of inattention. We fail to fully engage with the richness of our surroundings, whether in public or private spaces. Constantly besieged by electronic devices, which are vying for all our attention, we exist in an era characterized by pervasive distraction and carelessness.”
While trying to capture this reality, Lenci’s approach – which he applies with a medium-format camera -, “acts as a metaphor for our difficulty in dealing with the avalanche of information to which we are exposed. In these photographs, the whiteness of the images, resulting from long periods of exposure to the data emitted by the diodes, represents the absence of information; that is, the lack of registration on the photosensitive surface. A similar thing is occurring in our hippocampus, the area in our brains that retains information received.” The photographer considers the series, which he wants to continue working on in other European and Brazilian metropolises, as an instruction manual to encourage the viewer to self-reflection. “On a photographic level, I strive for my work to exist in a delicate line between truth and illusion.” Lenci clarifies. “Photography is an incredible tool for presenting your own version of reality – a form of storytelling that can blur the boundaries between fact and fiction.”
ULRICH RÜTER
Expositores LED enormes, cobrindo fachadas inteiras, são uma parte presente na vida cotidiana dos espaços públicos das grandes cidades. Para seu projeto, o fotógrafo brasileiro (nascido em 1980) encontrou exemplos de tais publicidades em Paris, na Suíça e, acima de tudo, em sua cidade natal, São Paulo. Como uma série, essas imagens fazem uma forte afirmação sobre a sobrecarga visual. Vivemos em uma era marcada pela distração e desatenção constantes, diz Lenci. O que minhas imagens retratam acontece em tempo real, bem diante de nossos olhos, em todos os lugares por onde olhamos. A mídia, a sobrecarga de informações e a hiperconectividade são esmagadoras, alcançando um volume que mal conseguimos controlar. O Metaverso já está entre nós. O afastamento coletivo de um modo de vida analógico continua a todo vapor. Precisamos repensar esse comportamento, percebe o fotógrafo, que está consciente e familiarizado com isso.
A Era da Desatenção começou a tomar forma quando me vi enfrentando os desafios de criar dois filhos, enquanto tentava manter nosso mundo digital em casa seguro e saudável. Isso me fez pensar em tudo o que vem de todas as telas que não consigo controlar e que parecem se multiplicar a cada minuto em cada cidade do mundo.
Uma das referências históricas do projeto é a série Theaters do fotógrafo nipônico-americano Hiroshi Sugimoto, cujas exposições longas em cinemas causaram sensação há mais de quatro décadas. A série de Lenci leva o conceito para o espaço público, onde os pré-requisitos técnicos mudaram fundamentalmente. Expositores modernos utilizam semicondutores. Um diodo é um componente eletrônico que permite o fluxo de corrente elétrica apenas em uma direção, impedindo o fluxo na direção oposta, explica o fotógrafo. Essa batalha incessante por nosso foco, somada ao excesso de informações, está gerando uma epidemia global de desatenção. Não conseguimos nos envolver plenamente com a riqueza do que nos cerca, seja em espaços públicos ou privados. Constantemente sitiados por dispositivos eletrônicos, que disputam toda a nossa atenção, existimos em uma era marcada pela distração e pela desatenção.
Ao tentar capturar essa realidade, a abordagem de Lenci – que usa uma câmera de médio formato – funciona como uma metáfora para a nossa dificuldade em lidar com a avalanche de informações a que estamos expostos. Nessas fotografias, o branco das imagens, resultante de longos períodos de exposição aos dados emitidos pelos diodos, representa a ausência de informação; ou seja, a falta de registro na superfície fotosensível. Algo semelhante ocorre em nosso hipocampo, a área do nosso cérebro que retém as informações recebidas. O fotógrafo vê a série como um manual de instruções para incentivar o espectador à autorreflexão. No plano fotográfico, busco que meu trabalho exista numa linha delicada entre a verdade e a ilusão, esclarece Lenci. A fotografia é uma ferramenta incrível para apresentar sua própria versão da realidade – uma forma de contar histórias que pode borrar os limites entre fato e ficção.
ULRICH RÜTER