Still Life

“However false the subject may be, once photographed, it is as good as real,” said the brilliant Japanese photographer Hiroshi Sugimoto about his diorama series, taken at the American Museum of Natural History in New York in the early 1970s.
Similarly, Lucas Lenci, in creating his Still Life series—an exhibition and book—was drawn to taxidermied birds as a counterpoint to zoo animals “that seem lifeless and those that have gone through the process of taxidermy, which make them appear to have life.”
In the 18th century, taxidermied animals were part of “cabinets of curiosities” or “wonder rooms,” which housed collections from the era, the result of travels funded by weary European nobles like the Austrian Archduchess Maria Leopoldina, who later became the Empress of Brazil.

Still Life, however, emerged for Lenci from something more mundane: his children were more attracted to the animals in natural history museums than those in zoos. Indeed, taxidermy suggests—somewhat paradoxically—a form of art. Their resin eyes appear more alive than the real thing and are framed by perfect landscapes, not aging, much like a good photograph. Historians say that art museums drew inspiration from these cabinets of curiosities.

Lenci’s choice of a black background for the individual animals further enhances the colors of their feathers and their shapes, evoking tenebrism, a technique perfected by the Milanese Caravaggio, which spread through the Baroque and Romantic periods. Birds, like those painted by the Dutch artist Carel Fabritius in the 1600s, have always inspired artists like Lenci, who saw an entire universe surrounding the subject, which he was drawn to explore. “It’s a particular world, organized and much admired in Europe, which sparked my desire to visually explore the theme.”

The “life” immortalized—and so brilliantly illuminated, sharp in its clarity—advances into photorealism. And in this case, it brings the opportunity to delve into a world of intriguing things that are intrinsic to the photographic medium, much like the Frenchman Marcel Proust, a photography enthusiast, who preferred to see the details of the world, such as the tops of Egyptian pyramids, through a photograph rather than climbing them.

In these beautiful images, Lucas Lenci shows us the contrast between what is real and what is not. It exists because it externalizes something we need to perceive—not just as a problem we try to overcome, but as something we need to represent; a more tangible and ephemeral side of humanity, like decay and aging, and its necessary ascent and rebirth.

 

Juan Esteves

“Por mais falso que o assunto seja, uma vez fotografado, é tão bom quanto real”, disse o genial fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto sobre sua série de dioramas, feita no American Museum of Natural History de Nova York, no início dos anos 1970.

Já Lucas Lenci, ao construir sua série Still Life, exposição e livro, teve seu interesse por pássaros taxidermizados como um contraponto aos animais presos em zoológicos “que parecem estar sem vida e aqueles mortos que passaram pelo processo de taxidermização que parecem ter vida.”

No século XVIII os animais taxidermizados faziam parte dos “gabinetes de curiosidades” ou “quarto das maravilhas” que abrigavam as coleções da época, fruto de viagens financiadas por enfadados nobres europeus como a arquiduquesa austríaca Maria Leopoldina, que tornou-se imperatriz do Brasil.

Still Life, no entanto, surgiu para Lenci de algo mais prosaico: seus filhos eram mais atraídos pelos animais dos museus de história natural do que os dos zoológicos. De fato, a taxidermia sugere – de certa forma, o status de arte. Seus olhos de resina são mais vivos que os naturais e são emoldurados por paisagens perfeitas, não envelhecem, assim como uma boa fotografia. Historiadores dizem que os museus de arte se inspiraram nos gabinetes de curiosidades.

A escolha de Lenci por um fundo negro para os animais individuais ainda realça as cores de suas penas, seus formatos que nos remetem ao tenebrismo, um dos estratagemas do milanês Caravaggio, uma tendência que avançou pelo Barroco e Romantismo.
Pássaros, como os pintados pelo holandês Carel Fabritius nos Seiscentos, sempre instigaram artistas como Lenci, que notou a existência de todo um universo em torno do assunto, pelo qual interessou-se. “É um universo particular, organizado e muito admirado na Europa, o que me despertou a vontade de explorar o tema visualmente.

A “vida” eternizada – e muito bem iluminada e exemplar em sua acutância- avança no fotorrealismo. E aqui neste caso, traz a possibilidade do conhecimento de um mundo de coisas interessantes que são intrínsecos ao meio fotográfico, como preferia o francês Marcel Proust, um aficionado da fotografia, que elegia ver os detalhes do mundo, como o topo das pirâmides egípcias, por uma fotografia a ter que subir na mesma.

Nestas belas imagens, Lucas Lenci nos mostra o contraponto entre o que é real e o que não é. Existente por ser a exteriorização de algo que precisamos perceber, não apenas como uma problematização de alguma coisa que buscamos suplantar, mas sim do que precisamos representar; um lado mais palpável e efêmero do ser humano como decadência e envelhecimento e sua necessária ascensão e renascimento.

 

Juan Esteves